
Privação de liberdade é sinônimo de privação da família?
Mundo Aflora A ausência de visitas familiares para adolescentes em privação de liberdade é um desafio que vai além das
Neste mês em que lembramos o Dia Mundial e Nacional de Combate ao Trabalho Infantil, celebrado em 12 de junho, o Instituto Mundo Aflora convida para uma reflexão urgente: o tráfico de drogas é, sim, uma das piores formas de trabalho infantil. E, infelizmente, tem se tornado uma realidade cada vez mais presente na vida de meninas e meninos em situação de vulnerabilidade.
Falar sobre isso é romper o silêncio em torno de uma realidade que não pode mais ser ignorada. Cada vez mais crianças e adolescentes, cada vez mais novos, estão sendo “abraçados” pelo tráfico. O que deveria ser direito garantido pelo Estado, como proteção, acesso à educação, à cultura, ao lazer e ao trabalho digno no tempo certo, se converte em ausência. Onde o Estado falha, o tráfico ocupa.
Esse espaço ocupado pelo crime organizado muitas vezes aparece como única alternativa. Um lugar de pertencimento, de dinheiro rápido, de sobrevivência. Mesmo que o risco de morte ou de prisão esteja sempre por perto, para muitas dessas crianças o tráfico representa a chance concreta de sustentar a casa, ajudar a família e se sentir parte de algo.
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou, na semana de combate ao trabalho infantil, que, entre 2023 e até abril de 2025, 6.372 crianças e adolescentes foram retirados de situações de trabalho infantil. Desse total, 86% estavam envolvidos nas chamadas piores formas de trabalho, como exploração sexual, trabalho doméstico em condições degradantes, atividades agrícolas perigosas e o tráfico de drogas.
Mas o que acontece depois que essas crianças e adolescentes são afastados? O ciclo de violações continua. Muitas vezes, o acesso a políticas públicas não chega. Faltam oportunidades reais, falta escuta, falta proteção desde a infância. E o que se vê é uma inversão cruel: essas crianças só passam a ser visibilizadas quando cometem um ato infracional. Elas não são vistas como vítimas do abandono de direitos, mas como sujeitos do crime.
De acordo com o relatório do SINASE de 2024, 27% dos adolescentes em privação de liberdade no sistema socioeducativo estão ali por envolvimento com o tráfico de drogas. Um dado alarmante que revela não apenas o recrutamento sistemático de adolescentes pelo crime, mas também o fracasso das políticas de garantia de direitos que deveriam proteger essa população desde o nascimento.
A vivência no sistema socioeducativo, como conhecemos na realidade do Instituto Mundo Aflora, expõe histórias marcadas por negligência estrutural. São trajetórias que começaram muito antes do ato infracional, quando faltaram escolas de qualidade, atendimento de saúde digno, oportunidades culturais, espaços de escuta e cuidado. Faltou o básico. Faltou o Estado. Faltou a sociedade.
Por isso, não é possível pensar a erradicação do trabalho infantil sem enfrentar a desigualdade social que o alimenta. Não é possível olhar para o tráfico de drogas como uma escolha pessoal sem compreender as estruturas que empurram meninas e meninos para essa realidade. O enfrentamento exige mais do que fiscalização e punição. Exige investimento em políticas públicas eficazes, que ofereçam caminhos concretos de emancipação, pertencimento e futuro.
A infância não pode continuar sendo interrompida. Cada criança e adolescente retirado do tráfico e protegido a tempo é uma vida resgatada do ciclo da exclusão. É dever de todos nós garantir que não sejam lembrados apenas quando cometem um ato infracional, mas reconhecidos como sujeitos de direitos desde o primeiro dia de vida.
Porque nenhuma criança deve ter que escolher entre viver e sobreviver.
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