Além de rótulos
Mundo Aflora “Criminosas”, “bandidas”, “delinquentes”, “bandidinhos”, “marginais”. Você já falou ou ouviu alguém se referir assim a adolescentes que cumprem
Vivendo em um conjunto habitacional, testemunhei de perto muitas trajetórias de crianças e adolescentes que cruzaram caminhos no tráfico de drogas. Pessoas que cresceram ao meu lado, alguns amigos de infância e até mesmo membros da minha família acabaram envolvidos nesse caminho de plena violência, seja por parte dos traficantes ou da força policial. E quando isso acontece em uma área que apresenta vulnerabilidade social, é ainda pior. É uma realidade que vai além da questão financeira, como discutimos recentemente no evento “Tráfico de Drogas no Trabalho Infantil” promovido pelo Instituto Mundo Aflora no início de junho.
Para muitos jovens a atração vai além do dinheiro, muitas vezes considerado “fácil”. Trata-se também de um senso de pertencimento, de encontrar um lugar onde se sintam parte de algo maior. No entanto, ao examinarmos de perto, é difícil não se sentir perturbado. O que estamos fazendo, enquanto sociedade, para retirar essas crianças e adolescentes deste perigoso “trabalho”?
A exposição precoce a armas no contexto do tráfico de drogas é assustadora. Essas crianças e adolescentes são colocados em um ambiente de alto risco, onde conflitos armados são comuns e a segurança pessoal é uma preocupação constante não apenas para eles, mas também para a família. Conviver com armas, drogas e dinheiro ilícito acaba por normalizar uma cultura de violência e agressividade, afetando profundamente o desenvolvimento psicológico desses adolescentes. A desconfiança, a agressividade e até transtornos mentais relacionados ao estresse pós-traumático são apenas alguns dos impactos.
O acesso irrestrito às drogas agrava ainda mais a situação. Crianças e adolescentes não só correm o risco de se tornarem dependentes, mas também se veem enredados em dívidas impagáveis com traficantes, minando qualquer possibilidade de mudança de vida.
É importante reconhecer que a comercialização de substâncias ilícitas por crianças e adolescentes é considerada uma das piores formas de trabalho infantil. Esse é o primeiro ato infracional em muitos Estados, de acordo com o Levantamento Nacional do SINASE – 2023.
Devemos lembrar que o tráfico muitas vezes não oferece um terceiro caminho para esses adolescentes — o caminho de sair e conquistar um futuro diferente. Muitos não sabem por onde começar; outros, quando tentam sair, são julgados e estigmatizados por seu passado. Mas há também aqueles que, com apoio e orientação, conseguem recuperar o direito de sonhar que nunca poderia ter sido negado.
Precisamos urgentemente reavaliar nossas políticas e práticas para proteger essas crianças e adolescentes vulneráveis. Eles não devem ser apenas lembrados quando entram em conflito com a lei e são privados de liberdade. Devemos garantir que seus direitos sejam protegidos desde o nascimento, oferecendo oportunidades reais para um futuro seguro.
Como comunidade, como sociedade, temos o dever moral e ético de agir. Somente assim podemos romper o ciclo de violência e oferecer um caminho alternativo ao tráfico de drogas.
Nossas crianças merecem um futuro onde possam crescer sem medo e sem violência. Nós devemos isso a elas.
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