A guerra invisível: o abismo social das crianças no Brasil
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A violência estrutural é uma realidade complexa e insidiosa, infiltrando-se em todas as esferas da sociedade, muitas vezes de maneira imperceptível. Em nosso último artigo, exploramos a forma como a invisibilidade social transcende fronteiras, mas devemos nos questionar: a sociedade pode verdadeiramente absolver-se de responsabilidade? Como podemos aprimorar nossa capacidade de acolher aqueles que negligenciamos? Existem vidas que valem mais do que outras?
A violência estrutural se manifesta na negação sistemática dos direitos básicos, moldada pela estrutura dos sistemas econômico, social-político e ambiental. Isso coloca as vítimas em uma posição de extrema vulnerabilidade, sujeitas a maiores níveis de sofrimento e até mesmo morte prematura. As meninas cis e pessoas trans que recebem apoio do Instituto Mundo Aflora (IMA) são especialmente afetadas por essa realidade, frequentemente invisibilizadas pela sociedade em geral, o que resulta na negligência de suas histórias, necessidades e desafios de vida.
Para essas pessoas, a violência estrutural se apresenta em diversas formas, desde a falta de acesso a serviços de saúde adaptados à diversidade de gênero até a discriminação no mercado de trabalho e a violência sexual. Essas experiências são agravadas pela interseccionalidade com outras formas de marginalização, como raça, classe social e orientação sexual. Você já imaginou que a primeira experiência sexual de muitas delas foi um abuso e que muitas nunca tiveram um bolo de aniversário?
Além disso, a invisibilidade é uma forma de violência estrutural enfrentada pelo público do IMA. Mesmo antes de cumprirem medidas socioeducativas, essas pessoas já eram negligenciadas pela sociedade, família e Estado, e após isso, sua situação só piora, contribuindo para o rompimentodos vínculos existentes, abandono, falta de apoio e reconhecimento de suas identidades e subjetividades.
Quando alguém é invisível socialmente isso impossibilita reconhecer suas vozes. E não importa quanto elas tentam se expressar, pedir espaço para existir, a sociedade e Estado respondem que a vida dela vale menos e que não são prioridade. Desde a falta de oportunidade, violação de direitos dentro das medidas socioeducativas, a falta de absorvente até investimento em organizações como o Instituto Mundo Aflora que trabalham para a proteção e garantia de direitos desse público.
Diante disso, é fundamental questionarmos o valor atribuído a uma vida, especialmente quando levamos em conta o público que sofre com essa violência em diversas camadas da sociedade. Achille Mbembe, filósofo camaronês, em sua obra “Necropolítica”, mergulha nessa dinâmica, explorando como certos grupos são submetidos à violência estrutural, relegados à invisibilidade e à descartabilidade. A necropolítica, como conceituada por Mbembe, é o poder de ditar quem pode viver e quem deve morrer, uma lógica que permeia muitos aspectos de nossas sociedades. Isto é, existem vidas que têm mais valor do que outras.
O filósofo também nos lembra que a luta contra a violência estrutural não é apenas uma questão de justiça, mas também de sobrevivência. Enquanto certos grupos continuarem sendo alvos da necropolítica, como meninas cis e pessoas trans que tem a experiência de privação de liberdade, nossa humanidade coletiva permanecerá comprometida. Devemos nos implicar não apenas a reconhecer as realidades e lutas das pessoas em situação de vulnerabilidade, mas também a agir de forma decisiva para transformar as estruturas sociais que perpetuam essa injustiça e desumanização.
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