A guerra invisível: o abismo social das crianças no Brasil
Mundo Aflora Em um mundo onde todos se mobilizam em solidariedade às crianças vítimas de guerras, é necessário refletir sobre as realidades
Tenho duas filhas de 8 e 10 anos. Primeiras netas, primeiras sobrinhas, primeiras afilhadas. Uma onda de amor invadiu a vida de todos da família quando elas chegaram à esse mundo. Cada um teve e tem a sua forma de demonstrar esse amor por elas. Mas infelizmente muitas vezes esse amor é demonstrado em forma de presentes. Muitos presentes.
Digo infelizmente porque não dá nem tempo de elas desejarem uma boneca nova, um tênis, uma canetinha que na sequencia sacolas de shopping já aparecem em casa. Pode ser Dia das Crianças, aniversário ou um domingão comum.
No começo tinha medo que as meninas achassem que as coisas vem de forma fácil na vida, ou que não dessem valor ao que tem, ou que virassem ávidas consumistas.
Tentativas de conversas com a família só pioraram a situação. Os parentes saíam ofendidos e eu frustrada.
Então resolvi mudar de estratégia e focar meus esforços de diálogo nas meninas.
Desde muito pequenas procurei ensiná-las a importância de doar.
Não foi algo que fez muito parte da vida da minha família quando eu era criança. Pelo menos não que eu me lembre. Então eu também tive que aprender enquanto ensinava minhas filhas.
Elas mal pronunciavam as palavras direito, mas ja sabiam que para cada brinquedo novo que entrava em casa deveria sair um usado.
O mesmo vale para as roupas, sapatos, tiaras, mochilas. Delas e meus.
Hoje em dia nem preciso mais lembra-las da regra do “entra 1, sai 1”. Elas mesmas já separam as coisas e só me avisam quando “a sacolinha para as crianças pobres” está pronta.
Ainda assim sempre acho que elas tem mais coisas do que deveriam. Mas ao menos elas estão crescendo crianças desapegadas e sabem a importância de ajudar os que são menos privilegiados do que elas. Assim espero.
No entanto, meu desejo maior é que elas entendam que doar vai além de uma atitude de reparação, de compensar pela abundância do que elas tem. Espero que elas consigam incorporar “o doar” como um hábito legítimo e regular em suas vidas.
A definição da palavra “doar” é: transferir gratuitamente a outrem, de forma legal, bem, quantia, imóvel, vantagens etc. que constituíam objeto de sua propriedade ou patrimônio.
Mas doar é mais do que desapegar vez ou outra de algo que não nos serve mais.
O ato de doar é muitas vezes tão ou mais importante que a doação em si.
Doar demonstra solidariedade, generosidade, gratidão, virtude, reconhecimento pelo outro e consciência social.
Quem recebe a doação é visto, considerado. Tem seu esforço, sua causa e seu espaço na sociedade valorizados.
Quem doa reforça seus valores de vida e o senso de comunidade.
Doar faz bem para a autoestima e para a auto-confiança de quem recebe e de quem doa.
Doar é um ato democrático. Qualquer um pode fazer.
Existem inúmeros jeitos, causas e oportunidades para todos participarmos.
Acabamos de viver O Dia de Doar que é uma grande campanha para promover a generosidade e um mundo mais solidário. É um movimento que começou nos Estados Unidos em 2012 com o nome de #GivingTuesday, chegou ao Brasil em 2013 e hoje é uma campanha mundial com mais de 70 países oficialmente participando.
Tenho a impressão de que assim como a regra do “entra 1, sai 1” aqui de casa, o #GivingTuesday também nasceu com um propósito de compensação pelo excesso de consumismo na sociedade já que a campanha acontece sempre na sequência de datas comerciais já famosas, como as BlackFriday e CyberMonday.
Portanto não vamos seguir acreditando e praticando o doar apenas como forma de reparar e aliviar nossas atitudes consumistas.
Não vamos esperar o próximo Dia de Doar para exercitar nossa generosidade e nossa cidadania.
Vamos incluir esse hábito em nossas vidas diárias.
Vamos ser exemplos para nossas crianças.
Doar deve fazer parte das nossas rotinas, das nossas obrigações e responsabilidades.
Dá para doar um pouco sempre.
Seja doando brinquedos, roupas, dinheiro, tempo, escuta, alguma habilidade ou trabalho, estaremos no fim doando amor e amparo aos outros e à nós mesmos.
Para doar para o IMA você pode usar os seguintes canais:
– Através da nossa conta bancária:
Banco Itaú – Ag 0350 – Cc 18796-9
Instituto Mundo Aflora – CNPJ: 26.159.982/0001-52
– Através das nossas chaves PIX: doacao@mundoaflora.org
Por Valeria Barbosa, colaboradora voluntária do Instituto Mundo Aflora.
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