A guerra invisível: o abismo social das crianças no Brasil
Mundo Aflora Em um mundo onde todos se mobilizam em solidariedade às crianças vítimas de guerras, é necessário refletir sobre
Olá, me chamo Jéssica* e vim contar um pouco sobre a minha história de vida… vamos lá!
Nasci em uma família humilde no interior do sertão do Piaui. Tive uma infância um pouco complicada porém gostava muito de brincar. A roça era nossa diversão, lembro de brincar em meio ao pasto, correr atrás das vacas, subir em arvores. Meus primos, irmãos e eu passávamos o dia brincando, eu amava tudo aquilo. Ah, como eu era feliz…
Mas em meio há tudo isso tive que assumir uma responsabilidade que não era minha, a de ser mãe. Meus pais se separaram quando eu ainda tinha 9 anos. Minha mãe foi embora deixando para trás eu, meus irmãos, e meu pai assumiu a responsabilidade de cuidar de nós. Meu pai saia para trabalhar e eu tinha que cuidar dos meus irmãos durante o dia. Minha irmã com apenas 2 anos e meu irmão com 7. Cuidava deles mesmo sendo tão nova porque sempre tive o instinto de proteger quem eu amo. Minha infância foi deixada de lado para assumir essa responsabilidade.
Aos meus 13 anos vim para São Paulo, morar com minha mãe. Tinha muita magoa e rancor dentro de mim por ela ter nos deixado. Fui abusada sexualmente pelo o atual marido da minha mãe onde ela até hoje finge não ter acontecido. Diz que foi um ato isolado na minha família. Minha mãe sempre teve um relacionamento abusivo e até hoje não consegue se libertar e não permite ser ajudada. Acabei me tornando uma adolescente rebelde. Foi nesse ambiente onde tudo desandou, comecei a usar drogas, ter amizades com pessoas das quais nunca deveria ter me aproximado, mas fazia de tudo para não ficar dentro de casa, não suportava ficar lá. Depois de um tempo eu já não tinha mais controle sobre minha vida, usava drogas e minhas “amizades” me levaram para o sistema socioeducativo para cumprir um período de 2 anos e 6 meses.
Durante a medida socioeducativa tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas que realmente acreditam no potencial de cada adolescente lá dentro. O Mundo Aflora me ajudou a entender que somos capazes de realizar os nossos sonhos. Assim como foi mim, acredito que para outras meninas que estão em situação de medida socioeducativa, esse projeto tem um grande impacto em nossas vidas.
Hoje eu estou realizando um grande sonho graças ao Instituto Mundo Aflora. Estou cursando o tão sonhado Curso de Direito. Não tive apoio familiar mas tive todo o respaldo necessário do Mundo Aflora. Sou extremamente grata por tudo e sei que juntas fazemos a diferença. Quem diria que a filha de agricultores rurais de baixa renda e semianalfabetos, nordestina, e ex-dententa do sistema, conseguiria chegar onde eu cheguei. Portanto, eu só tenho uma coisa à dizer… não deixe de acreditar nos seus sonhos, pois somos mais fortes do que pensamos. Serei a primeira da família ter um curso superior e isso é meu combustível diário.
Mundo Aflora obrigado por nunca ter deixado de acreditar em nós! Graças a vocês estou conseguindo realizar um grande sonho e tenho certeza que assim como eu, vocês vão fazer a diferença na vida de muitas outras jovens. Gratidão é o que sinto por vocês.
“A força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável.” Mahatma Gandhi
Jessica* é um nome é fictício pois assim como ela, muitas meninas tem medo de contar suas historias e sofrer retaliação de sua familia, justiça ou “amizades” do crime.
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